"(...) desejaria reunir uma colecção de contos de uma única frase, ou de uma só linha, se possível."
Italo Calvino - seis propostas para o próximo milénio.
{Do site de L. Eine, o editor da Minguante que sugeriu ao Carlos Seabra, que intitulasse seu e-book de micronarrativas de "E-pifanias". Em 2007, eu, no rastro de Santo Tomás de Aquino, de Jacques Lacan, de Júlio Cortazar e, especialmente, de James Joyce(no embrião do que seria o "Retrato do Artista Quando Jovem" e pelas notas melodiosas de seu "Ulisses") já intitulava minha tese assim: "Brevidade e Epifania na Micronarrativa Contemporânea". A idéia: sustar,com competência lingüística, um conto brevíssimo(trabalhei com os de dez palavras, monofrásicos ou com menos de 300 caracteres)poderia suscitar, no leitor não preguiçoso, algo da órdem de uma revelação súbita - epifânica! Joyce achava que isso era ofício do homem de letras - colher fragmentos do chão mais trivial, mais comezinho do cotidiano e torná-los epifânicos, literalizando-os.No Brasil, de Machado de Assis a Dalton Trevisan, passando pelo capítulo de frase única("Natal") no João Miramar do Oswald...
Na "Poética"(cap. XVIII), Aristóteles,aplicando brevidade na Odisséia (!) já apontava a concisão como desejável ao efeito no leitor. Em Santo Tomás, o Brevitas;Contemporâneos? Pois bem, a metáfora do iceberg de Hemingway e a idéia de "história aparente" e "história oculta" em Ricardo Píglia e mais Tchekhov e Poe - tudo apontando para a condensação e a elípce(se bem lembramos Freud, inclusive para o efeito anedótico...)como recursos narrativos que, quando radicalizados, potencializariam efeitos impactantes,epifânicos! Ora, há uma trajetória e tanto nisso tudo, reduzida (ou, não desenvolvida nem mencionada)no prefácio ao "E-pifanias" editado (e prefaciado)pelo Sr.L. Eine, a quem dou os devidos créditos pela citação de Ítalo Canvino.Parabéns a nós todos, portanto, inclusive ao escritor Marcelo Spalding Perez, autor da dissertação de mestrado(pela UFRGS) que, com a integridade e generosidade intelectuais tão rarefeitas hoje,oferece-nos um desbravador itinerário acadêmico por estas sendas,tão afeitas à hipermodernidade, como o diria Gilles Lipovetsky.